segunda-feira, 17 de maio de 2010

Casual

Imaginar-me dar-te o meu amor primeiro,
naquele instante da primeira hora,
Ousar-te desafiar-me num único olhar,
de piscar em piscar
como se fosse prova.
Não te quisera, por não
me querer, e em um momento
único, de felicidade mútua.
um minuto infeliz,
deixo-te um abraço e
um beijo, com o gosto amargo
sabido instante apenas.
Mas unico e leve, sinto,
pois não basta nada,
deste tempo louco
que não quisera nos carregar.

domingo, 7 de março de 2010

Mulher

Ser mulher,
é andar descalça em pedras pontiagudas,
é um desfiladeiro de hormônios
jorrando sensações para todos os lados,
é engolir a seco, todas as sentimentalidades,
é sangrar de dia
sangrar a noite
e viver do sangue.
Comer porque não gosta
e não comer porque gosta demasiadamente,
quero ser mulher todo dia
porque é nesso loucura que me acho.
O que te assusta nas mulheres?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Alcoólicas (trechos) - Hilda Hilst

I
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.
II
Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
III
Alturas, tiras, subo-as, recorto-as
E pairamos as duas, eu e a Vida
No carmim da borrasca. Embriagadas
Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa.
Que estilosa galhofa. Que desempenados
Serafins. Nós duas nos vapores
Lobotômicas líricas, e a gaivagem
se transforma em galarim, e é translúcida
A lama e é extremoso o Nada.
Descasco o dementado cotidiano
E seu rito pastoso de parábolas.
Pacientes, canonisas, muito bem-educadas
Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa.
Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida
IX
Se um dia te afastares de mim, Vida — o que não creio
Porque algumas intensidades têm a parecença da bebida —
Bebe por mim paixão e turbulência, caminha
Onde houver uvas e papoulas negras (inventa-as)
Recorda-me, Vida: passeia meu casaco, deita-te
Com aquele que sem mim há de sentir um prolongado vazio.
Empresta-lhe meu coturno e meu casaco rosso: compreenderá
O porquê de buscar conhecimento na embriaguês da via manifesta.
Pervaga. Deita-te comigo. Apreende a experiência lésbica:O êxtase de te deitares contigo. Beba.Estilhaça a tua própria medida.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Início.

No início,
tudo era diversão,
adrenalina a mil,
Dentes de fora,
e risos rasgados.
Vontades que vêm
embaladas em redes de medos.
O que eu não sei,
é o que me impulsiona a correr.
O que me sufoca,
me faz rir com o vento.
Eu adoro inícios
eu adoro meios
eu adoro fins.
Tudo tem o porque e o quê
que me faz feliz.
Têns o meu sorrir
e minhas lágrimas,
enredos diferentes
sensações afloradas,
Um impulso derradeiro
e a alegria de ver a fumaça.